São duas as estórias que eu quero contar e vou começar do final, das memórias mais frescas na minha cabeça.
Acabei de chegar em casa. Meus pés estão queimando, meu ouvido apita e minhas lentes... grudadinhas nos meus olhos. É que tem muita fumaça no rock: do gelo seco à nicotina, é impossível sair cheiroso do Órbita.
Hoje tivemos, abrindo a noite, uma banda autoral bem interessante. E eu que só aceito chorus na introdução de “Teenage Riot”, eu que sou tão chata e não me agrado mais com quase nada, me surpreendi. E vou contar pra vocês: no Órbita o caché da banda autoral é 200 reais menor que o da cover. Mas como assim? Difícil explicar. Não me arrisco. Nem vou reclamar de barriga cheia. Pra quem cresceu tendo que criar todas as possibilidades de uma apresentação - o som, o lugar e até o público - qualquer caché que vem é uma imensa alegria. E não me entendam mal que não estou sendo irônica.
O pessoal nos recebeu muito bem lá. Tem um menino tão prestativo que sempre fico envergonhada e vira uma bola de neve quando eu, tímida por ele estar me ajudando, vou lá tentar ajudar ele e fico pensando se não tá parecendo que eu tô fazendo isso com medo de ele quebrar alguma coisa. Não é isso. Só quero ajudar. Cresci no noise, sem roadie, sem caché e com a alma preenchida de glória.
Engraçado que todo show dos Casablancas é marcado por um acontecimento importante: o primeiro foi na despedida da Marina, os outros não lembro tão bem, mas teve um que foi na primeira sexta-feira do ano e hoje foi o casamento de dois jovens. Casamento tal que me rendeu uma florzinha amarela na orelha, depois no braço da guitarra.
Tem um nome que combina bem com a apresentação de hoje: “Hard To Explain”, como na música. Afinal de contas, que tipo de pessoa espera até a 12ª música pra entrar no clima? Num show da Café isso provavelmente daria mais que um repertório. Foi complicado aquecer hoje. Sem puxação, a Marina faz uma falta tremenda na platéia. Difícil explicar alguns dos erros cometidos, do tipo “era em que casa mesmo?”. Muito stress acumulado, quem sabe... Esses shows sempre são melhores nas férias. Mas o que importa mesmo é que os Strokes salvaram o rock em 2001 e desde janeiro de 2008 eles têm salvo a cada 6 meses, mais ou menos, quando alguém nos chama pra tocar. Senti certa solidão quando, mentalmente, tentava justificar meus erros no meio da apresentação. É que eu estudo arquitetura e o curso é muito pesado. Na UFC mais do que na UNIFOR. Já fiz os dois. Mas quem vai entender? Só mesmo a Lia, que estava lá também.
Fico feliz porque estava quase todo mundo lá. Gente que eu não via desde os 13 anos, como é de praxe nos shows dos Casablancas. Gente da mais hype à mais desengonçada e dos dois em um só. Sr. Ferro e sua bela namorada; alguém que perguntou se eu tenho namorado... (sim, o baixista); o menino da “Eletricityscape”; os amigos do Lucas; os amigos do Daniel; os amigos do João e os amigos do Cabeliso. Mas a próxima estória é sobre alguém que não estava lá.